"Escravos de Jó jogavam caxangá
Tira, bota deixa o Zé Pereira ficar
Guerreiros com guerreiros ‘jaziam’ zigue zigue zá..."
O amor implora para ser protegido pelo escudo
A paixão varonil soergue espadas bradando guerra e invadindo muros.
Antes de ler tais prantos, abastado leitor, fique com o prólogo mais curto que escrevi nos nefandos daquele verão... Ai desse apaixonado que por muito vê pouco enxerga.
Pés de borboletas sôfregas, tão bela que doía os olhos dos que fremiam admirar tal donzela. E bailava, como bailava! Rodopiava viés com sua saia bordada de ardor, quiçá quando não parecia um pião. E o que pernoitava na cidade era que a moça reencarnava paixão.
O balanço do quadril era feito aguardente, e os imigrantes que de todos os portos chegavam, tomavam doses das vestes ardentes da criatura que trajava delírios ao invés de tecidos.
E cantara e gritara e grunhia. E só ela, só ela conseguira tal feito de apedrejar afagando, pois suas carícias deixaram cicatrizes, e os seus murros eram mais delicados que afago de um espinho à flor.
E naquela roda, naquela dança, no gingado de libélula, olhara para um homem que olhara para ela.
E brotaram-lhes orquestras no peito.
Tremiam no pudor satânico que lhes roçavam às partes íntimas da carne. Se é que não se fez do corpo uma parte íntima de tais.
-De onde vistes tal épica dama, fazendo-me gozar o corpo?
E dançaram-se e tripudiaram-se e lambuzaram-se.
E no fim de toda noite pagara ele luíses de ouro para que ela pudesse bailar-lo ao léu do alvorecer, até que com as últimas moedas acabara-se também o amor dela.
... Quando reticência vira três pontos... Na testa.
Mas era ele encantado por tais pés daquele gingado, que voltara, e voltara e... E via sua senhora carregar bêbados para os bordeis adentro.
Nalguma dessas, ouvira uma sonata com voz tão baixa que parecia rezar...
“Se essa rua fosse mia, mandara eu ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes e viria meu amor passar?” E pensara ela no eufemismo de tal cantiga. Mocinhas que enfeitam suas ruas para que seus cavaleiros sujem-nas com estrupos e vômitos de orgasmos.
E o homem interrompera essa beleza de pensamentos.
-De onde vem esse coração que goza?
-Nunca vi um coração que goza. Falara como se estivesse ao padre.
-Cá está, meu coração que goza puro, asseado, por tal criatura imaculada que mais parece fortuna expulsa do céu.
E vestiu-se toda de alma.
-Tu não vais ficar. Teu corpo, Dom Juan, é cor de batom, teus olhos salpicam desejo, e tuas carnes falam por si só, e falam um nome doce de outra.
Zeus, brejeiro, mandara um cúpido com duas flechas acertar o mesmo peito.
-Eu confesso-lhe que nos dias de verão quero valsar com ela, mas nas noites de primavera quero cantar contigo.
-Digo-te meu querido, fico com teu amor, mas jogo-te daqui. Amar duas é amar nenhuma. Porque amar é se entregar da alma com corpo, com corpo de alma, é se entregar só para um ser, querendo ser devorado só pelo mesmo, amar tanto parece prisão, cheiro estranho, sol quadrado, e tu já não sabes como é o mundo do lado de fora.
"O amor é como um abismo, quando você pensa que está voando, pode já estar caindo"
E acabo aqui, bruto leitor, morro com minhas próprias palavras. Abuso dos sentimentos dos outros para vender esse conto. Pois escrever meus romances nada mais é do que usar tais pessoas ingênuas que passam na minha calçada. É a pena, que sente a pena de mim...
Era uma vez uma ciranda sem cirandar.
Lindo texto. Dizer que faltam palavras, ou que não sabemos escolhe-las, para definir o que se pensa do texto lido, nem sempre é preguiça de comentar. Criativo, no sentido artístico mesmo, poético. Continue arrancando a beleza da simplicidade e coloca aqui. Só acho que o amor pode mais do que imagina nossa moral...
ResponderExcluirbjs
http://costabbade.blogspot.com/
Muito bom esse post. Esse blog é ótimo.
ResponderExcluirhttp://vivaiona.blogspot.com/
Escravos do pó, fumavam maconha.
ResponderExcluirAcende, apaga, deixa o Zé Pereira cheirar.
Maconheiros com maconheiros fazem *nessa parte, ponha os dedos na boca, tragando, depois no nariz, cheirando, e por fim, assopra.*
"É a pena, que sente a pena de mim..." Finalizar uma estória com uma frase de tanta força poética é para poucos, muito poucos. Nem sempre o que é exemplar se refere ao corretivo, à punição, pois esse "exemplar", palavra com a qual posso me exprimir sobre a leitura do seu texto, é o oposto do politicamente correto, justamente por não ter nem justiça nem medida. Seu trabalho é ímpar. Um exemplo de literatura sóbria e ao mesmo tempo galopante. A vida é esse jogo, Jó, escrava das paixões. Quando as últimas moedas que alimentavam a encenação no palco do amor, o teatro termina e a realidade desalmada, armada, e sem amor, faz figura triunfante como cavaleiro perdido, com a sua "amadura", lutando contra gigantes - moinhos de ventos. Um grande abraço...
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