Insisti “bem me quer- mal me quer”, assim acabei com todas as rosas da floricultura de Maria.
Por onde tu andaste? Em que cama repousou? Quem é a dona destes sorrisos de rei? Óh, olhos-negros-abismos-profundos, voltastes? Não, foi só uma visita breve, pois estavas a repousar no sofá, sentira falta deste cheiro que tanto reclamava de casa mofada, mal sabias tu que quem mofava não era a casa, éramos nós.
Procurei-te tanto, espalhei suas fotos em meio praças e ferrovias, gritei por ti, choraminguei nos ladrilhos, daquela rua que não, que não era minha e não tinha pedrinhas de brilhantes. E nem vi, nem vi meu amor passar.
Condenado por Colombina, Arlequim voejou, encontrou-se em outros contos de fadas, e com marcas de dentes aprendeu o prazer que só gente sente. Padeceu sobre todas as camas, todas as casas, sobre telhados diferentes, sobre outros jardins, sentiu o cheiro de inúmeros lençóis, morreu de amor, matou por ele. Estava fantasiado, a descoberta do vinho, levou-te ao meu esquecimento.
Deixe-me dizer que virei teu anjo da guarda, já não sou mais teu amor de carne, tua bela moça de beijos e apertos, descobri-me um querubim, que tanto de amor por ti, criou asas para te proteger, não sou tua amada, sou guarda. Despenquei-me em silêncio, diferente dos outros, sou um anjo com espadas e escudos. Agora, só olho-te de longe, guardo um manto, pois sei que depois das farras com as fadas, tu te sentes só, faz do seu corpo concha, e a dor toma de conta da alma, tens medo do escuro, tens medo que a própria alma venha o assombrar.
Daí, cá estou eu, cantando uma cantiga de ninar. Servindo de Morfeu para teus sonhos. Servindo de voz para o silêncio que te assustas. Servindo de ar para teus pulmões. Eu estou aqui. E agora tu podes dormir.
Amanheceu, tenho de ir... Ainda me pergunto: como seria se tu não resolvesses me dar um beijo na ponta do nariz e me fechar os olhos.
Fostes e não voltastes. Não voltastes.
E com os anéis no chão, convido-te para a última dança, peço-te em meio a Quimera.