quinta-feira, 21 de abril de 2011

Amnésia

Às vezes tenho a sensação de estar sumindo, como as águas do rio, que não voltam. Como a tinta da carta em meio uma chuva, esvaecendo-se, e não é que eu não pertença a esse mundo, mas é o mundo que não me pertence, como se o traje de humano não cobrisse meu corpo por inteiro. Sinto mais frio que o resto das pessoas. E não tem nenhuma fantasia que me agrade nesse baile de rejeitados. Todo dia parece que uma parte do meu corpo some, uma vez acordei sem meus olhos, “olhava” as pessoas pelo som que elas emitiam ruídos e miados desafinados. Algumas vezes me olho no espelho e não sei quem é que está mentindo. É como se eu enxergasse meus medos naquele reflexo. Se sair correndo, talvez, o reflexo não consiga me alcançar e o  medo fique preso no espelho.  E no outro dia que acordo, não sinto minhas pernas, minhas mãos, não sinto fome, nem calor, vem o que minha mãe me disse uma vez “nós precisamos nascer todos os dias”, e a única coisa que sinto é que fui abortada. Que todas as minhas tentativas de nascer todos os dias falharam. Talvez seja isso, precisamos nascer todos os dias para que o fracasso de ontem não seja lembrado, assim incluímos nossos amores, felicidade, nascer todos os dias é amnésia. Que me inventou isso?