O segundo poema que escolhi foi "Contrários" do livro "Tempo: Via e Viagem" de Sólon Borges dos Reis.
CONTRÁRIOS
Alguém terá que ser o último,
para que sejas o primeiro.
E só serás proclamado o vencedor,
quando abaixo de ti houver vencidos.
Mas, o amor é mais generoso que a vitória.
Porque não se alimenta da derrota.
Nem está condicionado.
Absoluto, independe do contraste.
Só o amor prescinde dos contrários.
Sólon Borges dos Reis escreve nas letras do tempo. Nesta síndrome de minha existência o livro "O tempo: Via e Viagem" confortou meu coração, aqui, no pequeno espaço tiro meu chapéu e deixo minha homenagem.
DEMÊNCIA
(Sólon Borges dos Reis)
A síndrome do trânsito
Tem fronteiras de sangue.
O acelerador projeta o bólido.
É uma loucura.
Tudo o que eu não sou
Eu sou agora.
Tudo o que eu não quero
Eu faço aqui.
Eu comando esta máquina, absoluto,
Eu sou o senhor do meio, onipotente,
e nada me detém.
Sou forte, eu sou viril, potente, vigoroso,
Eu posso, eu sou macho, eu sou pujante,
Não me ultrapasse!.
Correr mais que ontem, menos que amanhã,
No desespero, na velocidade
Que não conhece letra, luzes, obstáculos.
Correr, ultrapassar-eu sim-correr, voar,
Se possível voar,
Mas, não ceder jamais o espaço , a vez, a frente.
Sou todo impulso, eu sou rancor, sou brio
E o meu olhar faísca.
A mão armada, o braço em riste, a boca dura.
O demônio no carro,
Quem me passa?
Quem me vence?
Não me passe, não me passe para trás,
Sob esta angústia,
Não consigo esperar meio minuto
Não sei por quê, mas eu não sou capaz...
Aonde vou agora, alucinado,
Não sei, que importa? Que interessa?
Um barril de tensões, pronto a explodir,
Uma palavra de ordem só
Me precipita:
Eu tenho pressa!
Quando não posso violentar as luzes,
Me enveneno. Infeliz, eu me exaspero
E, entre os dentes, mastigo os próprios nervos.
Nem me reconheço
Nesta fonte de cólera...
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