sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Como seria o fim do mundo



Acordei "desmanhecido" com barulho de macumba e cheiro de capim santo. Aquelas velhas, na frente de minha alcova com o cheiro das partes íntimas arregaçando os quadris abaixados sobre os baldes cheios de roupa suja. Alguém grita da janela pra janela de outrem 'Tome cuidado, o Brasil é o país dos possuídos'. Sinto o sol entrar pela brecha dos telhados, o tempo está quente e úmido. Recebi uma ligação sobre o que iria acontecer hoje. Não fiquei surpreso. Continuo com a mesma brecha na porra do telhado. Continuo com a porra da mulher gritando do lado de fora. A terra, dizem é um arquétipo feminino. As mulheres, como sabem são vingativas. Caso as pisem mais forte dos que elas gostam elas revidam. Deve ser isso, a mulher terra vingativa. Coço uma verrugada. Mas continuo deitado. Sinto que se acabar mesmo não fará muita diferença. No fundo, tá todo mundo morto. Mas como nós somos convencidos queremos um deslumbre para o fim dos nossos fedidos rabos. Uma apoteose para acabar. Um espetáculo. Sei lá. Coço a verruga que nasceu ontem. Ontem vi um filme do Sganzerla. Aquilo meche comigo cara. Porque como uma das personagens eu também tenho pavor à velhice. As mulheres das virilhas pretas estão com os seios amostra nesse momento estendendo suas roupas. Eu tenho pavor à velhice. Um menino está sendo arrastado pela mãe com um pedaço de telha para a bica. Sei por que ele grita. Xinga-a de 'cão' enquanto ela passa com firmeza o caco de telha sobre seu corpo. 
Penso em encontrar Maria das Flores   na padaria, mas preciso cuidar da verruga. Não sei se é porque tem nome de flor que Maria tem cheiro bom. Ou se é por causa de Maria que as flores cheiram bem.
Olho diretamente ao relógio. Sei que agora não tenho mais tempo. Não verei Maria. A mãe não limpará seu filho terminando seu trabalho. O filho não poderá sair correndo pelado pela rua, realizando o plano que estava em sua cabeça. As roupas das virilhas das velhas não irão enxugar. 
Sussurro algo para minha alma. Fecho os olhos. Olho para a brecha do sol. Penso nos humanos. Sinto pena. Fecho os olhos...



O mundo acabou...

Não para o menino. Sua mãe. As virilhas. A terra. Os possuídos. A banda. A roda vida. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Aliterações de um velho fatigado


Que espécie de ser eu soou?

Sou eu ser de espécie?
Espécie de seu eu sou
Sou eu seu de espécie
Eu sou seu de espécie
.
Espécie de seu eu sou.