quinta-feira, 15 de julho de 2010

A noite de Oliva-verde Parte 2

                                                                                                                O pacto


É quase de manhã, o sol ainda não brotou, é 
noite-clara, com perfume que só olfatos mais aguçados conseguem sentir seu cheiro. Tenho leves lapsos de sonhos, sonhos?Ou variação de pensamento?Até onde acaba o pensamento e começa um sonho?Às vezes acho que sonhos não existem não aqueles de forma automática que acontecem do nada. ”Sonhos de loteria”. Que aparecem números para serem apostados com esperança. Creio que sonhos são apenas pensamentos diários, quando não temos álibis,”sonhamos”. Sonho é desperdício, pois sempre acordaremos na posição que paramos com o real.
Estou com um pouco de dor, dor-jejunal. Não me falta fome, pois a tenho, o que me falta é coragem, sendo que a mesa não estar posta, e eu teria que preparar o desjejum com minhas próprias mãos. Por isso fico deitada, esperando a fome passar.
Estou crua, e o vento bate em minhas costas que se arrepiam. Estou crua, crua de sentimentos. Não se confunda, pois não é vazio. Vazio é um grande nada. Você já viu lágrimas vazias?Eu já às vi e não gostei. Crua como um filhote dentro de um ovo, quase quebrando a casca, mas não querendo sair do ovo. Crua como uma semente que começará a fincar suas raízes na terra.
É inútil, tento fazer minhas palavras compreensíveis. Mas como?Se nem eu as entendo. Você já viu quando uma criança acaba de conhecer um estranho?O jeito que ela analisa-o, olhos arregalados, comendo cada gesto que você fará. Estática. Analise crua, psicologia de criança. Estou tal como uma. Olhos arregalados comendo seus gestos. Sacie-me!
Manuseio um prego e um martelo, batendo com força, cravando minhas palavras em uma parede. As pessoas tendem a ficar nulas, debaixo de suas quatro paredes brancas. Eu confesso minha vida nelas. Essas mesmas pessoas sentem aroma até em flor postiça.
Pelo que  disse, excomungaram-me. E agora sofro por minhas confissões coletivas. Minha pele está sendo trocada a sangue frio, querem que nasça no seu lugar uma mais delicada, e sensível a toque humano. Começa a reencarnação de um corpo ainda vivo. E agora o que resta?Um bebê faminto enrolado em um cordão umbilical. E uma missa de sétimo dia.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A noite de Oliva-verde

Acordei surda, na madrugada as glândulas salivais eram virgens, e meus olhos estavam cansados como em um enovelado de lã velho. Meu coração bombeava o sangue ainda quente, acordei como se saísse de um coma. Estava em coma?Se estivesse não queria despertar, gritei ninguém me escutou.
Estava transpirando e meus cabelos molhados comprovavam isso. Era suar cáustico. Mas meu corpo estava frio. Ofegando, escutei um barulho de pingo que caia na pia, e vinha do banheiro, ao lado do meu quarto. Contei quanto tempo um substituía o outro, e via o outro que substituía o primeiro. Foram três segundo, a gota durava isso e morria. Morria?Ou entrava em coma?
Alcei, fui atrás das gotas, minha cama estava encharcada, não trocarei as cobertas. Entrei no banheiro e a luz branca me ofuscou a visão. A primeira aparição foi de um reflexo no espelho. Meu rosto tinha algo químico, fechei a torneira. Agora lhe darei uma imagem: O escuro e o ponteiro do relógio, um grande, e um pequeno vermelho o que contava os pingos.
Os meus pés estavam sujeitos ao chão. Peguei uma caneta que era negra. O que te escrevo é negro. Sentei na cama contraindo meu corpo, tive um sonho, uma abstração, minhas palavras estão soltas em uma desordem, como se fosse uma fita sem editor. Eu sou o editor. Olhei o relógio com tal desespero, sei o que o especialista de sono me recomenda: “durma oito horas por dia” negarei o pedido e saldarei amanhã.
A doce insônia é algo que me aflige, peguei um livro de ciências, pois isso é a única coisa que trás sono. Abri em uma página que descrevia: “Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo”. Em seguida fechei o livro, pois sou a própria contradição da Física, tenho dois corpos que ocupam o mesmo espaço, eles se fundem em um “eu tu”.
Às vezes tenho excesso do “tu”, pois tenho no sangue o DNA que não é meu, é intruso. E isso me faz lembrar o que vi ontem, dois pássaros que voavam por entre o entardecer, estavam tão próximos que pareciam um só. Eles tinham o mesmo DNA?Não sei. Sei que nem os pássaros e nem eu cremos na lei da Física. Fiquei suspensa, fui abduzida pelo meu “id”, começo a ter impulsos animalescos,não tenho,sou. Não quero devotar o meu “superego” e recalcar meus desejos. Deixarei então o aroma afrodisíaco que meu corpo expeliu, para que você o sinta em forma sólida, formas de letras.
Vou preparar um chá, ligando o fogo e colocando água no recipiente. Entrei em transe, uma orquestra de pensamentos, do qual os violinos possuíam corpos humanos, o volume acresceu começando a ficar ensurdecedor. Dou-lhe a segunda imagem: Estou sentada na mesa e no fundo da tela você pode ver a chaleira. Crio então o primeiro pseudônimo para o que estou sentindo chama-se Psysis. Sou o pseudônimo, tenho a physis. Serei a physis? O chá...
Manuseio a xícara ela queima minha mão, é erva-doce. Doce. Pingou no papel, o pingo foi crescendo até que tomou de conta das duas linhas, não tentei limpar, tenho certo gosto pelo acaso. Procuro o barbante para terminar esse tricô. O barbante é a coragem. Mas não ligarei a televisão tenho pena do japonês. Preciso da arte de suas palavras, pois é a própria existência coletiva.

 Assentei minhas mãos nelas, e comecei a ingeri-las, li alto para que a lua me acompanhasse. Acho uma injustiça quem  ler em pensamentos, não deixando  que os móveis  escutem não deixando os ouvidos aplaudirem.
Começo ver a coloração que minha pele sofre conforme estou lendo as pequenas linhas. Pecarei se não as escrever aqui?
Por egoísmo de meus ouvidos, não descreverei. E então completarei: Eureca, Eureca não era só um ciclo era pura “maiêutica”.
[...]