quarta-feira, 14 de julho de 2010

A noite de Oliva-verde

Acordei surda, na madrugada as glândulas salivais eram virgens, e meus olhos estavam cansados como em um enovelado de lã velho. Meu coração bombeava o sangue ainda quente, acordei como se saísse de um coma. Estava em coma?Se estivesse não queria despertar, gritei ninguém me escutou.
Estava transpirando e meus cabelos molhados comprovavam isso. Era suar cáustico. Mas meu corpo estava frio. Ofegando, escutei um barulho de pingo que caia na pia, e vinha do banheiro, ao lado do meu quarto. Contei quanto tempo um substituía o outro, e via o outro que substituía o primeiro. Foram três segundo, a gota durava isso e morria. Morria?Ou entrava em coma?
Alcei, fui atrás das gotas, minha cama estava encharcada, não trocarei as cobertas. Entrei no banheiro e a luz branca me ofuscou a visão. A primeira aparição foi de um reflexo no espelho. Meu rosto tinha algo químico, fechei a torneira. Agora lhe darei uma imagem: O escuro e o ponteiro do relógio, um grande, e um pequeno vermelho o que contava os pingos.
Os meus pés estavam sujeitos ao chão. Peguei uma caneta que era negra. O que te escrevo é negro. Sentei na cama contraindo meu corpo, tive um sonho, uma abstração, minhas palavras estão soltas em uma desordem, como se fosse uma fita sem editor. Eu sou o editor. Olhei o relógio com tal desespero, sei o que o especialista de sono me recomenda: “durma oito horas por dia” negarei o pedido e saldarei amanhã.
A doce insônia é algo que me aflige, peguei um livro de ciências, pois isso é a única coisa que trás sono. Abri em uma página que descrevia: “Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo”. Em seguida fechei o livro, pois sou a própria contradição da Física, tenho dois corpos que ocupam o mesmo espaço, eles se fundem em um “eu tu”.
Às vezes tenho excesso do “tu”, pois tenho no sangue o DNA que não é meu, é intruso. E isso me faz lembrar o que vi ontem, dois pássaros que voavam por entre o entardecer, estavam tão próximos que pareciam um só. Eles tinham o mesmo DNA?Não sei. Sei que nem os pássaros e nem eu cremos na lei da Física. Fiquei suspensa, fui abduzida pelo meu “id”, começo a ter impulsos animalescos,não tenho,sou. Não quero devotar o meu “superego” e recalcar meus desejos. Deixarei então o aroma afrodisíaco que meu corpo expeliu, para que você o sinta em forma sólida, formas de letras.
Vou preparar um chá, ligando o fogo e colocando água no recipiente. Entrei em transe, uma orquestra de pensamentos, do qual os violinos possuíam corpos humanos, o volume acresceu começando a ficar ensurdecedor. Dou-lhe a segunda imagem: Estou sentada na mesa e no fundo da tela você pode ver a chaleira. Crio então o primeiro pseudônimo para o que estou sentindo chama-se Psysis. Sou o pseudônimo, tenho a physis. Serei a physis? O chá...
Manuseio a xícara ela queima minha mão, é erva-doce. Doce. Pingou no papel, o pingo foi crescendo até que tomou de conta das duas linhas, não tentei limpar, tenho certo gosto pelo acaso. Procuro o barbante para terminar esse tricô. O barbante é a coragem. Mas não ligarei a televisão tenho pena do japonês. Preciso da arte de suas palavras, pois é a própria existência coletiva.

 Assentei minhas mãos nelas, e comecei a ingeri-las, li alto para que a lua me acompanhasse. Acho uma injustiça quem  ler em pensamentos, não deixando  que os móveis  escutem não deixando os ouvidos aplaudirem.
Começo ver a coloração que minha pele sofre conforme estou lendo as pequenas linhas. Pecarei se não as escrever aqui?
Por egoísmo de meus ouvidos, não descreverei. E então completarei: Eureca, Eureca não era só um ciclo era pura “maiêutica”.
[...]

Um comentário:

  1. Lol...
    Narração bem feita, bastante detalhes.Me perdi algumas vezes na leitura, ficou complicado pra assimilar xD.
    Ótimo menina.
    Vou ler a outra parte xD

    Qlqr

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