Ela não queria voar, daí não poderia ter asas.
A menina que conheci naquele dia tinha o caos nas pernas. Era de um rebuliço toda, não parava quieta, suspeitavam até de um frivião na alma, marcada por algum anjo travesso. Se tinha um gosto estranho era um de ficar palavreando com o ar. Escrevia com seu dedinho esquerdo no ar e depois assoprava, talvez tivesse medo de alguém poder ler o invisível dela, tinha lá sua razão. Quando conheci a menina descobri outra esquisitice, certa vez a ouvi dizer que meu sorriso era sorriso de maçã verde. Ora, quem sorri maçã verde? Mas foi aí que assobiaram que pra todo sorriso a menina inventava uma fruta. Dizia que o sorriso do seu avô era de “Bacuri sem caroço”, embora confesse nunca ter visto. Quando estava partindo da Cidade da menina era quase noite... Foi só um tempo de ela me dizer (sussurrando, assustada) outra dessas conversas dela de ar, perguntou “O Senhor não acha o escuro perigoso demais pr’eu levantar da cama e ir apagá-lo?