sábado, 14 de agosto de 2010

Onde foi parar o título?


Estou dispersa, frígida, e não consigo fazer com que essas palavras soem sentido. Não, elas não soaram, pois elas já não têm vozes, camuflam-se  diante uma escuridão que meu corpo emite.
Vejo-me diante de poluição de pessoas, donde esse lixo não inorgânico e não reciclável é jogado na frente de minha janela. Essa imundice de lixo humano do qual já não existe coleta, abarrotara minha casa, me deixando com todos os destroços que compõe essa sujidade.
Eu, engolindo esse ar poluído, esse ambiente detestável, essa lagoa que de longe se vê os corpos que  assemelham  a urubus debelados. Urubus espírito do lixão humano.
Não culpo esses humanos, culpa minha também, deixo-me sujar de suas poluições, e gosto, sinto que fazendo isso me aproximo do que chamo de “escape humano”.

Fico febril.

 Essa contorção do meu corpo quando estou me afundando em um oceano negro, deveria ser explicada pela medicina. Fico eu  e meu corpo contorcido, nenhuma explicação. E o joelho que fica perto coração sentindo a pulsação cada vez mais mórbida, são os braços que na mesma posição, segura os pés para que eles não possam fugir daquele lugar enfermo do qual você se encontra. Você se encurta para que a dor  possa se encurta junto com seu corpo. Essa é a posição do feto.

Deite-me em cima de espinhos para que a dor passe a ser física, e para que no corredor do hospital eu possa-me sentir segura, sabendo que lá alguém cuidara de minhas feridas. Onde me servirão  uma sopa quente.

Isso acontecerá freqüentemente, sinto que boa parte de mim, se foi. A boa parte de mim se foi. Essas orações, que é assim que chamo todas essas coisas que de mim saem, elas compunham-se de um vestido vermelho, mofado e rasgado, de dama confessa na igreja. Padre onde você está?Preciso hoje confessar-me. Cometi,e se não cometi,cometerei o pior adultério, estou traindo a mim mesma. Engano-me, e olho para o espelho com ar de cafajeste, não peço perdão por meus atos, muito menos pelo adultério, nem é para pedir perdão que estou aqui. Não sei por que estou. Só estou.

Sinal da cruz.

Amém.

Tenho que partir. E o caminho é longo. Deixe minhas palavras assim, sem começo nem fim, pois são palavras, não precisam de sentido para existir, elas só existem.

Amém...

domingo, 8 de agosto de 2010

Smoking



Entre tardes e uma neblina de longe branca de perto negra.
Amantes em um quarto dormem não se arrependem crédulos de um gozo quase uivante, então fazem do cobertor seu álibi do ato obsceno. Os corpos já frígidos camuflavam-se entre as latitudes de pensamentos indigestos. 


O suor ainda estridente,falava,gritava como se pudesse confessar o adultério. E as palavras saíam candentes na forma de água que se ferve a lenha. Então enquanto sentia-se a brasa queimar-los a cama de madeira, febris, podiam tocar a última faísca daquele fogo de outrora.


Desnuda,  seu corpo de pequeno porte ladrilhava cicatrizes de atos ferozes, e noites com gosto de ébrio. Seus lábios rigidamente bem desenhados ainda sentiam o sabor do vinho que descia sobre o deleite de uma chaminé eufórica. Sentia-se evaporar todo pecado omitido, as maças vermelhavam todas as mobilhas do quarto. E os escombros rangiam em pós-gozo.


Ele tinha os braços esculpidos e fortes. Fazia leitura do corpo da mulher deitada à sua direita. Ele escrevia como um poeta e não manuseava lápis, cravava as palavras no corpo que pulsava sangue, no corpo de sua amante. E nada do que estava escrito poderia ser apagado, ou reescrito, era poesia eterna, que o autor era personagem de parágrafos maus descritos, era à ida da poesia sem volta, consumada. Sabendo que suas escritas ganharam vida própria, viu-se  a titubear no sono.
Viam-se as cinzas que consumiam seus  corpos, a neblina já desaparecia, e já se sentia o aroma do café filtrado no vizinho.

Acordados, defronte um ao outro, olho negro olho claro, mas o mesmo olhar de pecado. Ele ainda mostrou um breve canto de sorriso, satisfeito. Ela tinha um olhar longe aquele que ele ditou certa vez como: ”Esse seu olhar é longe do tipo que me atravessa alma”. Ainda deu para escutar o nó desfazendo-se  na garganta dela. Se dissesses que o amava poderia perdê-lo.

 -Veja só onde fui parar. Ela declamou.
 -Veja onde estamos,ele respondeu,vestindo-se um Smoking azul marinho. Fechando a porta.
 -Vai ficar tudo bem?
-Sim, bem, tudo bem.