quinta-feira, 1 de julho de 2010

A mulher de Tupperware.

                                                                                                                            À Polyana Dias e sua fé, que em meus vôos transcendentais, encontro o ninho grávido.               

                                                                      
Andava por entre ladrilhos, o meu traje era epiderme desnuda entre brechas e cortiço procurava meus poemas, as ruas eram desalinhadas fazendo-me bombear como em um trapézio. Por entre elas viam-se jornais velhos e imundos, inundados de historias, imundos.
A iluminação era dada pelo orvalho, quase bruto, quase mudo só orvalho. E ao caminhar pelos labirintos noturnos da cidade ouvia-se a televisão ligada provavelmente no menor volume possível, mas o silêncio era tanto que fazia a TV chiar. Pessoas com insônia?Viço a dizer que elas estão dormindo e a TV ligada para o nada. Fazendo propaganda da insônia.
Entrei por várias ruas, me fiz orgânica e inorgânica. Vendi minha moral. Fui juíza de uma alma que condenei. Fui ao exílio da flor vermelha, e aplaudi de pé, pois ela rouba a cor de outras, que gritam a desigualdade das pétalas. Não é casto merece a guilhotina.
Fiz a curva que me deixou plainar em uma bela arquitetura de janela grande e amarela. Fixei meus pés, admirando-a. A casa era iluminada por uma lamparina um tanto celeste, roubando o brilho lunar. O amarelão úbere da janela, das chamas da lamparina e agora o meu.
Não sei o que significa amarelo, mas agora acho que tudo é desta cor, pois ela me toma. Meu coração bombeia o sangue amarelo. Busquei na memória algo que tivessem me descrito em amarelo, e lembrei-me do: ”Amarelo de medo”. Então meu medo tem cor, a cor da janela. Analisei a cor do meu medo de frente e flertei, achei-o formoso. Mas tinha medo na janela?Não só tinha a cor. Interrompi meu pensamento, observei uma sombra, que já não era mais sombra. Vi a galhardia de uma criatura, ela vestia ventura. Que senhora era aquela?Seus cabelos eram brancos, a mocidade havia abandonado-a. Era o efeito trágico da velhice!
Eu me pus diante daquela mulher, ela manuseava um círio que iluminava os compartimentos por onde passara,dando fertilidade aos móveis já empoeirados. Seus passos eram tão firmes, que ao tocar o chão fazia ranger, parecendo árvore amadurecida, com suas velhas historias.
Por isso o chão de madeira fazia tal barulho, contava historias, dos pés e dos passos. Finalmente ela apareceu na janela, olhando para o lado de fora, e o poste que piscava,consegui ver as linhas de seu rosto, rugas que conversavam entre si, e apareciam ao franzir da testa, mostrando uma preocupação. Será que esperava alguém?Sua prole?
Ela estava lá equilibrando o corpo velho sem muleta. Seus olhos eram fundos e azuis, como um fundo de um oceano, sem peixes, sem algas, ou tubarões, só oceano. Mergulho no mar e vou ao fundo, sem oxigênio, sou vitima inocente das entranhas dessa velha. O mar não tinha ondas era pós-lépido. Vi que ela fora ao encontro da cadeira de balanço, sentou, seus ossos agradeciam. A cadeira fazia um movimento robusto, despindo-se nas horas, indo e voltando, indo(...)
Os olhos quase fechados, quase abertos se entregando ao ventre dos sonhos. A lua observava à velha, caindo em sonolência profunda. Coloco em penhor tais minhas palavras. Tenho divida com a velha. Talvez retorne para conhecer o piso que conta historia.
Não encontrei meus versos mesmo assim terminarei: Esculpindo as palavras no corpo daquela mulher.