sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O tráfego da rosa


       Marchais pelados como os anjos faziam, na época em que  suas asas ainda eram brancas, pois não existia a tal da poluição. Voltastes a me ver como um erro acrobático, como um pôr-do-sol ao  meio dia. E essa lua que hoje canta, de mim só se ouve os berros, talvez se tu foste um maestro lua, eu poderia ouvistes. E por que berras para mim?Não posso olhar-te defronte, pois é insuportável ver-te como uma amante. Lua, explica-me como consegue ser tinhosa, não tem vergonha de mostra-se para todos?De ser dada aos amantes, de ser cobiçada pelos sonhadores?

      Lua faz-se cheia, viçosa, para os homens. Minguante para as mulheres enfeitadas de amor. Crescente para os casais gozando em um quarto, ou à espreita da janela. A nova é o parto, envolvida em um cordão umbilical, fazendo-a  choramingar, esperando pelo leite materno.
      Quem é você lua?Por que se faz, refaz, desfaz?Não sabes que de ti que tenho medo, e tu atrevendo-se camuflar não me resta mais nada  do que temer olhar para ti.

      Então me veja como uma flor perdida, ou quem sabe você me acha, leitor. Não trafegue por entre às roseiras da espécie que é minha flor, pois tu podes encontrar tempestades, e eu não moverei minhas pétalas para te salvar. Não espere seu barco naufragar para sair do bote, essas águas que me regam, falsas, matam-me mais um amante.

   E nessas idas e vindas das navegações, perdeu-se uma flor sem cor, não era branca, era incolor. Joguem essas âncoras parem esse navio, a rosa que era acromática fugiu. E capitão do navio grita: ”Procurem à rosa, se achar 20 vinténs vou dar”.

     Vasculharam o navio, e nada da flor, os homens negros, escravos, buscavam pela rosa. Como cachorros famintos buscavam por comida. Gritavam, e jogaram os barris de vinho, reviravam os quartos, e nada daquela flor. Alguns se jogavam do navio, e caiam no mar. Congelados, morriam com seus lábios tremidos, e suas mãos enrugadas, até o sangue fazer-se sólido, criando um cemitério em alto mar. O mar tomava-se outra cor. Os cadáveres negros, banhados, bailavam  com o andar das ondas. E os corpos desciam ao fundo do oceano.
 O Capitão desesperado tornou a gritar: ”Quem achar à flor, vou alforriar”.   
         E os negros desesperados, tropeçaram-se uns nos outros, e a arruaça estava feita. Confundiram-se uma flor roxa com a flor procurada, e guerrearam como animais selvagens, alguns estavam no chão, outros incansáveis ainda juravam ter visto à flor na navegação. E os bramidos dos negros com passar dos tempos, tornavam-se mais forte. Criavam alianças, comparsas, e inimigos de longa data, acusações eram feitas, cúmplices eram “traídos”. E nada da rosa ser encontrada. À noite já aparecia, e os negros detetives, cansados, mortos da batalha se rendendo, sem esperanças.

       E foi então que um deles viu: A rosa pegava um bote, a caminho para o Brasil.