domingo, 2 de janeiro de 2011

Conversa de Judas.

Pergunto-me como chego ao irreal do mundo, quando os escrevo os escravos. Como chego ao lugar? Simples, não o chego.

Então ele segurou meu coração, olhou como se fosse chorar, era quente? Disse-me: É de ferro, duro. Como carregas isso? Isso? Pensei, não o disse, que sejas isso o produtor de massa sentimental que fazes tu viver este sonho, mazelo.


Sinto-me leitora e personagem do contexto. Vou me afundando no pecado alheio, como se fosse o meu, dor e felicidade, pensamento, ébrio, devoção, sentimentos que não padecem quando cremados.


Usas o salto ao contrário. Fere teu pé. Melhor do que usar no peito que fere coração. Sangrarás do mesmo jeito, morrerás do mesmo sangue escasso.


Hamlet? Consumimos esse amor inventado nos  livros, filmes, puros, impuros, mal e bem acabados, sonoplastia que absorve toda nossa capacidade de amar em vida. Amamos a arte, machucamos por ela.


Falastes de pé, e descrevestes mãos? Como se meus pés fossem minhas mãos. E não o é? Não o são. Singular, nunca te achei plural. Dores? Não, dor. O singular é egoísta, sabe? Você é uma perfeita singular onde não cabem “s’s”. Suspeitas do meu acolhimento? Por qual suspeitaria?


A decoração do restaurante era obscura, o frio vinha e voltava conforme o vento. Zéfiros bailavam, bailavam com tanta intensidade que ascendia uma neblina, poeira dos zéfiros.


Desenhastes meu coração quando anunciou “decifra-me...” Acho uma tolice, não sou obrigado a decifrar-te, como se Vieira palestrastes um sermão.  Asneiras. Devora-me? ......................


Duas opções; estrupa-me  ou ejaculo-te.


Já está aqui dentro. Que suco gástrico. É banquete. Asneiras. Por quais Asneiras? Não pergunte. Brás Cubas. Quincas Borba. Queres mendigar? Queres o adultério? ....... Não posso ser Virgília? Não sou Brás.


Abraçamos nossos umbigos, companheiros ternos de eternos. Perdemos metade dele e ele continua conosco, olhe pro seu umbigo, não, não é egoísmo.


Aí, tu vendes almas? Não, vendo flores. Então, aí tu vendes almas. Tenho uma floricultura. Uma cultura de flores? Pareces que não mo entende.  Entendo. Contrario-te. Silêncio? Não preciso o contrariar, teus olhos já o fazem por mim.  Não nego.

Aí está um pouco de Arlequim,  Pierrot, Colombina. São sentimentos, leitor.


Eu poderia matar-te hoje. Não o faz por quê? Não viveria sem teu amor. E sem mim? Tu, cadáver ainda teria amor? Por ti? Responda-me. Rio Lethe acabaria comigo. Esquecer-me-ia? Nasce comigo?


Nasce comigo?


Depois da morte, uma promessa, nasce comigo?
Reencarna no meu corpo? Vou engolindo terras dentro do meu caixão.
Suspeito que nascer e morrer é perfeitamente igual. Não te lembras nada antes da vida, não te lembras nada depois da morte.


O céu está lindo hoje. Escárnio. Uma Fermata. O Universo? A poesia. Ela morre. E como morre. Então? Morre, mas vive. Não entendo. Não me decifras.


A matéria física, sólida, derrama, evapora-se. Posso até pegar o ar com os dedos.


Como tu te chamas? Ambiguidade. Não entendo. Vou-me embora. Já? Espere. Sim? Como te encontro. Não encontra. Adeus? Sempre...