quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
As chagas de Maria
Enquanto atravessava a porta sem olhar as cartas que estavam no chão. O ranger era de escárnio. Uma mulher sã e civilizada é assim que nas propagandas políticas imploravam meus votos. Uma mulher imaculada e honesta é assim que na igreja me vendem o paraíso, enquanto calada digo “amém”. Madalena, Afrodite, luxúria, gozo e fetiches pra que na cama a antífona seja o despir dos meus pecados mais pungentes.
Desculpem-me, mas ainda não sei gemer, votar e rezar tudo ao mesmo tempo. Pra ser mulher tem que ser atriz, atriz antes de ser mulher.
Gotejavam, eram os últimos suspiros dos céus.
O mesmo cheiro de casa, as mesmas cadeiras, retratos de um matrimônio que racharam as paredes.
Roupas nas malas, o sapato guardado e algumas filosofias empíricas retiro do armário. Aprender com as experiências, não é mesmo?
Habeas- Corpus.
E o nome disso não é saudade.
A ela entrego tuas dores, teus sabores, teu cheiro de mel, seus dentes e bocas, sua alma em véu, seu corpo ao gozo. Deixo-te com ela que é cheia de vida, com cochas de harém e dançante quadris de odalisca. Pois teu cheiro já é ela, e o cheiro dela é a foice na minha boca.
É dela a maçã que tua boca saliva. (Ponto) Strawberry Fields Forever, lembra?
Ela que te cantou e encantou, embriagou-te nos seus lábios boêmios, excomungou as marcas das minhas mãos no seu corpo, e te reacendeu Byron. Não nego que quando estava aqui, fazia-me sorrir e eu até venderia minha alma para ficar com isso, mas depois ia ao encontro dela e era lá que seu suor descia cálido, cortado em canivete. Foram lágrimas que paguei pros instantes que andei sorrindo.
Vértebra por vértebra se esfregando, escorpiões brincando de ferroar, o veneno excitante. Enquanto eu estava no banheiro olhando as rugas que criaram o nome de mulher. Minhas rugas têm nome. Não me sentia traída, afinal, eu era uma confidente das suas noites de amor. Eu estou olhando o meu umbigo, erro da sabedoria popular, olhar para o próprio umbigo dói muito.
Deixo nossos lençóis passados, nossa casa limpa, nossos papéis organizados, o jantar cozido, dotes domésticos dos rituais de mulher. Então você entrará com ela pela porta, derrubará nossos livros, porcos brincando na lama do esterco. Na intenção tola de ser multiplicada, acabei sendo subtraída.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Eu achei o inicio desconexo, mas depois foi até tomando mais corpo. Gostei muito da sua frase de efeito no fim : "na intenção tola de ser multiplicada, acabei sendo subtraída". Achei muito sagaz e inteligente. Gostei muito da sacada de tanto dizendo tão pouco.
ResponderExcluir__
http://coracaoonline.blogspot.com/
super interessante e bem elaborado! rico em detalhes!
ResponderExcluirhttp://medicinepractises.blogspot.com/
é, vc soube usar bem as palavras, expandindo bastante o texto... Ótimo
ResponderExcluirVertebrae by Vertebrae... Nasceu de uma coluna e paga por todo o corpo. Há de ser mulher? Há de ser submissa... Cheiro de casa mofada.
ResponderExcluir