As mosquinhas e suas asas dominam o tempo
Nesse seu voar invisível aos olhos,
Ao cururu resta uma missão
Arrotar milésimos
De sua turva distração.
Debruçada sobre sonhos remanescentes. Cobria os pés do frio, mas naquela época do ano já não fazia inverno. Introjeção dos medos que se voltara para infância. Injetou em si que algo perigoso podia tocar-lhe os pés à noite. São quase cinco da manhã, é preciso nascer. O dia acorda sonâmbulo. Aluando-se. Estive vagando por meus sonhos, nele avistava um velho sentado de bruços sobre a mesa do bar. Enquanto me aproximava vivia uma leve sensação de familiaridade. Não havia ninguém no bar fora o velho. Na mesa de sinuca tinham tacos e algumas bolas não encaçapadas como se alguém tivesse desistido do jogo. Tocava um bolero... Não sei dizer de quem, ou qual era, mas é música de fim de festa. As batidas assemelhavam-se com sinos anunciando os sete anjos do Apocalipse. Aproximei de sua mesa, seu bafo de cachaça harmonizava com a música do Apocalipse. Afastei a cadeira e sentei, na mesa tinham bitucas de cigarro e um copo meio vazio de pinga. Seus cabelos eram tais como brumas, tão brancos quão penas de gansos. Havia um começo de calvície no centro de sua cabeça e seus dedos eram enrugados e suas unhas sujas. Ele tinha sinais de cor marrom em todo seu braço, sua pele era visivelmente áspera. E eu indagara cá com meus botões “Quem abandonou este velhote?”. Ele tossia forte, tuberculoso. Jogou seu corpo para o lado e deu um escarro. Defronte ao seu rosto senti que o conhecia. Mas de onde, onde. Eu o abandonei? Recalquei-o e o larguei no limbo do esquecimento?